COMEMORAÇÃO
Era inevitável assinalar os 50 ANOS DO 25 DE ABRIL, em Constância, pelo fato desta data marcar um dos acontecimentos mais importantes da História Portuguesa do século XX; e por simbolizar o princípio da democratização do país, através da implementação de grandes transformações na sociedade, na sua economia e na sua cultura.
Em 1974, o dia 25 de abril de 1974 teve lugar numa quinta-feira, dia normal de trabalho, levando a que grande parte da população do concelho de Constância não se tivesse apercebido do que estava a decorrer em Lisboa. Nos dias e semanas seguintes, também, não se notou grande diferença, mas houve algo que a Revolução trouxe e que a população percebeu de imediato a sua importância: O FIM DA GUERRA COLONIAL.
Com esta perceção geral, procurou-se saber mais sobre a Guerra Colonial e o impacto que teve no concelho, através da palavra e da voz daqueles que lá estiveram e contado por quem a viveu e sentiu na primeira pessoa: os ex-combatentes e os seus familiares. A consulta dos Mapas de Recenseamento Militar – Indivíduos inscritos no recenseamento militar de 1960 a 1973, permitiu descobrir, os cerca de 600 jovens que atingiram neste período a idade de ir à tropa. Destes, uns não ficaram apurados, enquanto os restantes tiveram de cumprir o serviço militar, obrigatório em Portugal ou no Ultramar.
Assim, e para comemorar os 50 ANOS DO 25 DE ABRIL, foi concebida a exposição Adeus, até ao meu regresso! – Memórias da Guerra Colonial de Ex-combatentes do Concelho de Constância para retratar o longo e difícil percurso militar e pessoal destes jovens, oriundos ou residentes no concelho de Constância. Além desta iniciativa, elaborou-se um filme intitulado Memórias de Guerra de Tatiana Constantino e em 2025 será apresentada uma publicação de Miguel Luís sobre esta temática.
Os jovens recenseados no concelho, por volta dos 18 a 20 anos eram chamados à inspeção, onde eram avaliados física e mentalmente por médicos, que atribuíam ou não a capacidade de cumprir o serviço militar. Pouco tempo depois, eram chamados para iniciarem a recruta, recebendo um treino militar básico, que era seguido de uma especialização. Caso fossem mobilizados para o Ultramar, teriam que passar mais algumas semanas por uma Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO).
Assim que era dada a ordem de embarque, os militares partiam em navios do Cais da Rocha do Conde de Óbidos, enquanto as famílias em terra se despediam em lágrimas e num mar de lenços brancos.
Chegados a África deparavam-se com um mundo totalmente diferente, onde os militares do exército português combatiam um inimigo que lutava pela autonomia do seu território, através de táticas de guerrilha como; emboscadas e sabotagens. Cabendo aos militares portugueses defender o território, através de quartéis guarnecidos de homens e material de guerra, que quando eram atacados perseguiam e tentavam eliminar o inimigo. Além disto, cabia-lhes, também, manter em funcionamento os serviços necessários do quartel, assim como implementar a “PSICO”, conquista das populações, através da propaganda e da ajuda alimentar, médica, educativa às populações.
Atualmente os ex-combatentes, além de alguns bons momentos, recordam outros mais tristes passados durante as suas comissões, como as emboscadas, os acidentes, as doenças (o paludismo e a malária), com consequências mais ou menos graves, mas todos com mazelas físicas e psicológicas que chegaram até hoje
Não pode ser esquecido, que durante a Guerra Colonial, morreram quatro militares do concelho de Constância, três da freguesia de Santa Margarida da Coutada: ALEXANDRE ANTÓNIO ALVES FÉLIX, MANUEL JOÃO DE MOURA RAMOS INÁCIO e JOAQUIM DOS SANTOS BATISTA e um da freguesia de Montalvo: JOSÉ GASPAR RODRIGUES
Esta iniciativa teve por objetivo homenagear os jovens das décadas de 60 e 70 que tiveram como destino combater nas colónias portuguesas em África, valorizar esse enorme esforço humano, salvaguardar as suas memórias, preservar esta História como parte integrante da identidade local e nacional, e acima de tudo, promover uma consciencialização para a defesa dos valores da paz e da não violência.
Uma Peça Uma História
«Um Documento, Uma História» insere-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, e resulta do trabalho de consulta documental e recolha de memórias que está a ser efetuado pelo Museu dos Rios e das Artes Marítimas.
Baseando-se na recolha de testemunhos e memórias elaboraram-se pequenos vídeos de fragmentos históricos trazidos da Guerra Colonial pelos ex-combatentes do concelho de Constância.
Testemunho 1
No Um Documento, Uma História, recordamos a figura do tenente-coronel Fernando Salgueiro Maia; então um jovem capitão, e um dos grandes responsáveis pelo 25 de Abril de 1974.
ISIDRO CARRETEIRO, ex-combatente de Santa Margarida da Coutada (comissões em Angola, 1967-1969, e Guiné-Bissau, 1971-1973), teve este homem como comandante de Companhia na Guiné, e recorda três histórias de que se recorda sobre este “comandante acima da média”.
Integrou a Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas, tendo comandado, entre 24 e 25 de Abril de 1974, as tropas da Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Comanda o cerco ao Terreiro do Paço e ao Quartel do Carmo, que termina com a entrega do poder de Marcelo Caetano ao general António de Spínola. Tornou-se uma das grandes personagens-símbolo da revolução pela calma e firmeza demonstradas em momentos de grande tensão e que permitiram o bom sucesso do golpe militar que deu início à Revolução. Depois disso, tentou manter-se fora do protagonismo.
Foi depois da sua primeira comissão, em Moçambique, que Salgueiro Maia começou a questionar-se sobre a justiça do sistema político e económico do Estado Novo. A experiência na Guiné fê-lo perceber que a guerra não teria solução militar. Os homens sob o seu comando guardam dele grande respeito e consideração pela sua humanidade, capacidade de liderança e espírito de missão.